Os resultados do estudo demonstram que as práticas da GSCA têm um impacto positivo no desempenho ambiental e económico das empresas, ao contrário das práticas de GARC. Assim, os empresários do setor deverão investir mais em políticas estratégicas capazes de torna-lo mais sustentável. A utilização sustentável dos recursos, percebida numa perspetiva proativa e de longo prazo, tem impacto direto não só nos indicadores de desempenho, mas também no futuro do planeta.
A sustentabilidade é um tema recorrente nas políticas públicas globais, patente também na Agenda 2030 definida pelas Nações Unidas, que aborda várias dimensões do desenvolvimento sustentável (social, ambiental e económico) constituída por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). Nesta ótica, a GSCA é crucial, uma vez que se trata da gestão de informação, materiais e capital, bem como da cooperação entre empresas ao longo da cadeia de abastecimento, integrando de forma dinâmica objetivos relacionados com as três dimensões do desenvolvimento sustentável – social, ambiental e económica – que derivam das exigências dos clientes, stakeholders, entre outros.
As preocupações ambientais e as limitações de recursos tornaram a poluição ambiental e a utilização sustentável de recursos em questões de agenda global, com repercussão direta nos vários setores industriais. De uma forma geral, as empresas podem adotar uma estratégia reativa – respeitando e reagindo apenas à legislação – ou, por outro lado, podem optar por uma estratégia proactiva – focando-se na redução do seu impacto ambiental. Uma grande parte da degradação ambiental advém das cadeias de abastecimento das empresas e, nestas, existe um grande potencial para a melhoria de indicadores de desempenho, existindo uma crescente pressão sobre as empresas para encontrar formas de melhoria da sua atuação a este nível.
O caso da indústria portuguesa de plásticos
A indústria dos plásticos está no foco de todas as manifestações de defesa do ambiente. A adoção de práticas sustentáveis, fundamentais e imperativas numa sociedade moderna e que se rege por um novo paradigma ambiental, que dá primazia à relação do ser humano com o ambiente, representa para este setor industrial um desafio de grande importância, não só por parecer à primeira vista uma contradição com o seu próprio core business, como também constitui um ativo reprovável pela opinião pública.
A produção e o uso de plástico têm vindo a aumentar, principalmente devido à capacidade de substituir outros materiais como o papel, metais, madeira e vidro. Invariavelmente, o plástico é considerado um material poluente, sendo um polímero derivado do petróleo bruto, emite grandes quantidades de CO2 e por isso caracteriza-se como um dos mais poluentes principalmente devido ao mau uso e má conduta em relação ao desperdício, tanto do consumidor final, como da parte do setor industrial. A forma como é direcionado após a utilização, quotidiana ou industrial, e os lugares onde o seu depósito tem vindo a ser efetuado prejudicam o planeta, mais do que o material por si só. Desta forma, a indústria dos plásticos vê-se prejudicada, uma vez que poderá ser difícil para a mesma chegar a uma forma de reduzir a sua pegada ambiental sem condicionar negativamente o seu desempenho. No entanto, a economia circular da gestão da cadeia de abastecimento foi identificada como uma das principais áreas de sucesso para melhorar a eficácia das indústrias de processamento dos plásticos por ter na sua base o conceito de ‘ciclo fechado’, ideal para um material que tem um grande potencial de reciclagem (sem fim) e uma infindável variedade de utilizações.
Desta forma, foi realizado um estudo de investigação que pretendeu perceber como este setor industrial se comporta face à GSCA. Como o aprovisionamento é fulcral na cadeia de abastecimento, procurou-se igualmente perceber como este setor reage à Gestão Ambientalmente Responsável das Compras (GARC), respondendo às seguintes questões de investigação:
O estudo foi efetuado com base num questionário online dirigido à indústria portuguesa dos plásticos, que inclui várias formas de transformar o material plástico, sendo a extrusão e a injeção as principais. A amostra é constituída por 100 empresas, maioritariamente Pequenas e Médias.
Neste estudo comprovou-se a influência positiva das práticas de GSCA no desempenho ambiental e económico destas empresas, o que indica que a indústria portuguesa dos plásticos está a implementar algumas medidas de gestão sustentável ao longo da sua cadeia de abastecimento e já viu refletido no desempenho económico e ambiental o esforço destas medidas.
Com a avaliação do impacto das práticas de GSCA no desempenho exportador das empresas constata-se que existe uma relação positiva entre as duas variáveis.
Vários estudos defendem a importância da gestão ambientalmente responsável das compras, dado que estas influenciam positivamente o desempenho das empresas a diversos níveis. Neste estudo, as práticas de GARC no setor dos plásticos não influenciam o desempenho ambiental, económico, de inovação e de exportação das empresas. A razão da inexistência desta relação pode residir no facto de as práticas de GARC exigirem conhecimento técnico e, consequentemente, formação. Sendo que a amostra é maioritariamente constituída por PME, estas, não tendo recursos de investimento em formação para o aumento do conhecimento nesta área, podem enfrentar dificuldades na implementação destas práticas. Por outro lado, por ser um investimento a longo-prazo e cujos resultados levam tempo até se refletirem no desempenho, a ausência de provas desta relação positiva pode dever-se ao facto de as empresas do setor analisado estarem ainda numa fase muito precoce do processo de mudança. Embora haja práticas de GSCA e estas sejam medidas importantes, a GARC é algo que as empresas integradas no setor industrial dos plásticos terão de investir para poderem ser ambientalmente responsáveis, se quiserem sobreviver a longo prazo.
Os resultados revelaram também que não existe uma relação relevante entre as práticas de GSCA e o desempenho ambiental. Pressupôs-se ainda que a relação entre a GARC e o desempenho ambiental fosse influenciada pela ecocentricidade, o que não se provou verdadeiro na amostra estudada. Dado que a ecocentricidade se foca principalmente na colaboração e aprendizagem das empresas com os stakeholders para alcançar objetivos de sustentabilidade, uma explicação possível para estes resultados pode ser o facto de este processo ser bastante trabalhoso, dada a necessidade de competências acrescidas, cultura organizacional flexível e envolvimento da gestão de topo. Pode também estar relacionada com os custos inerentes a este processo ou com uma estratégia focada nos custos e processos operacionais e não numa estratégia proativa que tenha a ecocentricidade e a sustentabilidade ambientalmente responsável como foco.
No que diz respeito à rastreabilidade, da qual se esperava que influenciasse a relação entre as práticas de GSCA e o desempenho ambiental, os resultados não confirmaram a influência positiva da variável nesta relação. O motivo pode ser a pouca atenção que a indústria portuguesa dos plásticos está a dar à implementação de práticas sustentáveis, o que denota um conflito estratégico entre o curto e o longo prazo.
Para além da ecocentricidade e da rastreabilidade, também a cultura ambiental das empresas foi analisada como variável influenciadora da relação entre as práticas de GSCA e o desempenho ambiental e da relação entre a GARC e o desempenho ambiental. Em nenhuma das relações se verificou um impacto relevante da cultura ambiental como moderadora. O mesmo se passou com o posicionamento ambiental. Estas conclusões refletem a falta de proatividade na área da sustentabilidade e a importância que a gestão de topo deve dar à cultura empresarial. É urgente trabalhar a cultura ambiental para que as empresas possam renascer em termos ambientais e para que se consiga interiorizar nelas a necessidade de uma mudança de paradigma.
A pressão competitiva foi estudada como variável moderadora da relação entre as práticas de GSCA e o desempenho ambiental e da relação entre a GARC e o desempenho ambiental. No setor industrial dos plásticos, este impacto não se verificou. Pode associar-se este resultado à fase em que a amostra tratada se encontrava no momento da investigação (em plena pandemia da Covid-19, 1º semestre de 2020). Por ainda não existirem muitas empresas do setor a atuar em relação à sustentabilidade, a pressão competitiva para tomar medidas ambientalmente responsáveis não se faz sentir.
Em relação à incerteza ambiental como variável influenciadora da relação entre as práticas de GSCA e o desempenho ambiental, os resultados não mostraram efeito moderador relevante na relação entre as variáveis. A ausência de uma relação positiva entre estas variáveis pode relacionar-se com a antiguidade das empresas deste setor industrial. Dado o tempo em que atuam no mercado, poderão estar focadas em continuar o seu modus operandi, não sentindo necessidade de se adaptar ou de abrir horizontes em relação à sustentabilidade. Uma outra explicação plausível poderá ser a falta de recursos para investir claramente numa estratégia proactiva mais responsável ambientalmente de forma a obterem melhores desempenhos ambientais.
Por último, não foi possível encontrar um impacto relevante na relação entre as práticas de GSCA e o desempenho ambiental, nem tão pouco na relação entre a GASC e o mesmo. A responsabilidade social das compras está intrinsecamente ligada ao posicionamento e à cultura ambiental. Sem uma clara estratégia de sustentabilidade ambiental, a cultura ambiental interna destas empresas ainda não está suficientemente orientada para a responsabilidade social e ambiental.
De uma forma geral, o estudo permitiu demonstrar que, embora exista alguma atividade da indústria portuguesa dos plásticos em relação à sustentabilidade, muitas práticas e soluções a nível da sustentabilidade ainda não estão a ser implementadas ou valorizadas adequadamente. A mudança para paradigmas sustentáveis parece ainda estar numa fase muito precoce, o que talvez constitua o principal motivo pelo qual não foi possível averiguar detalhadamente em que medida as variáveis estudadas moderam a relação entre a implementação de práticas sustentáveis e o desempenho.
O facto de não existir impacto positivo da maioria dos itens analisados no desempenho é resultado da, ainda, preferência das empresas da indústria dos plásticos pelas decisões de curto-prazo e reativas ao invés de decisões planeadas a longo-prazo e proactivas que abracem claramente uma estratégia ambientalmente responsável. Isto é, o investimento ainda é direcionado para soluções operacionais imediatas, de forma a obterem uma rentabilidade imediata e não para soluções mais sustentáveis no futuro. De realçar que há uma clara necessidade de repensar os apoios às PME, cujos recursos escassos poderão não ser suficientes para enfrentarem o paradigma de mudança que se avizinha, que é incontornável.
A Gestão Sustentável da Cadeia de Abastecimento trata do alinhamento estratégico da empresa e dos seus stakeholders com o meio envolvente, por isso deve ser vista como um recurso que facilita uma visão sistémica da cadeia, baseada na economia circular e na partilha de conhecimento, que só trazem vantagens, tanto para as empresas como para o ambiente.
Sendo de conhecimento geral que aspetos como a sustentabilidade e a economia circular são o caminho para um futuro seguro, uma vez que o Homem esgota a velocidades alucinantes os recursos do planeta, é urgente que as empresas e as políticas públicas estejam orientadas para um investimento a longo-prazo para alcançar o desenvolvimento sustentável e aumentar o desempenho ambiental. A indústria dos plásticos tem um papel importante no caminho do desenvolvimento sustentável que não está a ser refletido na prática, por um lado, talvez devido à falta de recursos internos das empresas, mais a mais numa época de pandemia que retira foco estratégico às PME num ambiente de sobrevivência diária, e, por outro, devido à falta de estímulos governamentais suficientes, no sentido de impulsionar a mudança ou eliminar as reticências da indústria em relação a aplicar investimento por iniciativa própria.
É comum nesta indústria a gestão apostar em medidas a curto-prazo, que evidenciem desempenho financeiro imediato, ignorando as decisões a longo-prazo, de resultados mais lentos, mas também potencialmente mais eficazes e duradouros, sustentáveis. Dadas as políticas reativas neste meio industrial, compreende-se que porventura com incentivos estatais estratégicos seja possível fomentar o sentimento de necessidade de mudança, por forma a atingir metas sustentáveis.
A mudança de paradigma é imperativa para garantir o bem-estar das gerações futuras. A solução para esta renovação assenta em consciencializar os empresários deste setor industrial a tomar medidas estratégicas mais evidentes. O mundo mudou. As alterações climáticas começam a ser mais evidentes e sentidas. Se o plástico é um material ‘poluidor’ para o grande público, as empresas, e a indústria como um todo, têm de tomar medidas de longo prazo para adaptar as suas práticas à nova realidade. Não é uma mera inovação incremental. Há uma mudança clara de paradigma que é necessário abraçar que obriga a repensar estratégias reativas e a abraçar estratégias proactivas. Por outro lado, se a gestão ambientalmente responsável das compras é importante, a gestão responsável da cadeia de abastecimento é crucial, dado que implica uma perspetiva relacional interempresarial comum entre os diversos stakehloders. Complementarmente, cabe também ao Estado impor estas mudanças, de forma urgente, com uma perspetiva mais proativa, incentivando a que as empresas criem e implementem políticas de ecocentricidade, rastreabilidade, cultura ambiental e responsabilidade social, com o objetivo de criar um ambiente mais propício a práticas mais evidentes de sustentabilidade ambiental no setor dos plásticos. A criação destas políticas passa também pelo alinhamento com as comunidades académicas de investigação e formação de quadros imbuídos de uma cultura ambientalmente sustentável.
É de realçar a importância dos gestores de topo na de adoção de práticas sustentáveis na área das compras, apoiando-as e incentivando-as ativamente. É importante que as empresas cultivem a consciência e responsabilidade ecológica dos seus colaboradores, aumentando os seus conhecimentos e competências técnicas na área da sustentabilidade, através de práticas formativas, aculturação e domínio da prática do conceito, processo que as Universidades poderão integrar e serem fundamentais na mudança de paradigma de uma sociedade que se pretende mais verde.
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