Informação profissional para a indústria de plásticos portuguesa

Rumo à circularidade dos plásticos

Kevin Quast | Global Business Lead | Honeywell Plastics Circularity Business

18/09/2023
De todo o plástico fabricado entre 1950 e 2017, sete mil milhões de toneladas transformaram-se em resíduos, uma quantidade que continua a aumentar. Atualmente, o mundo produz o dobro do plástico que produzia há duas décadas, e oito milhões de toneladas por ano acabam nos oceanos. Em 2050, poderá haver mais plástico no mar do que peixes, segundo a WWF.

No entanto, é pouco provável que a necessidade de produzir plástico desapareça a curto prazo. Os plásticos desempenham um papel importante na conservação dos alimentos ou na proteção dos produtos médicos, por exemplo. A nossa sociedade continua a precisar deles para manter e aumentar os padrões de vida saudável, moderna e segura. Este facto desafia os decisores a implementar soluções realistas e eficazes para reduzir os resíduos de plástico.

Kevin Quast, Global Business Lead na Honeywell Plastics Circularity Business
Kevin Quast, Global Business Lead na Honeywell Plastics Circularity Business

Os governos têm de tomar medidas

Em todo o mundo, as agências governamentais estão a trabalhar para reduzir os resíduos de plástico. Estas medidas podem assumir a forma de restrições ou proibições de plásticos de utilização única, como os sacos de supermercado. Em Portugal, a proibição de comercialização de alguns plásticos de uso único entrou em vigor a 1 de novembro de 2022. Já este ano, estava prevista para 1 de junho a proibição do uso de sacos de plástico ultraleves, especialmente utilizados no retalho para colocar fruta, legumes e pão, mas o Governo decidiu alterar a norma e passar a taxar estas embalagens. O documento final está em fase de preparação.

No entanto, a legislação, por si só, não resolverá o problema. A sociedade precisa de uma abordagem holística para conseguir uma maior reciclagem de plásticos, o que implica a adoção de uma série de tecnologias.

Para desafios complexos, tecnologia complexa

Atualmente, as tecnologias de reciclagem mecânica processam a maior parte do plástico que é desviado do fluxo de resíduos. Neste processo, o plástico é transformado em pellets que são utilizados para criar novos produtos, um método que está muito difundido devido à sua acessibilidade, eficiência energética e relação custo-eficácia. Os novos desenvolvimentos também alargaram a gama de plásticos que podem ser reciclados mecanicamente para além do politereftalato de etileno (PET), incluindo materiais mais difíceis, como as embalagens flexíveis.

No entanto, a reciclagem mecânica tem as suas limitações. As propriedades físicas do material degradam-se durante o processo, os plásticos reciclados por este método têm um leque limitado de aplicações e acabam muitas vezes por ser utilizados na produção de mobiliário de jardim ou de tecidos. Além disso, alguns plásticos - como os filmes, os mistos e os plásticos coloridos -, são difíceis de processar por este tipo de reciclagem. Ao mesmo tempo, a regulamentação restringe o conteúdo de plástico reciclado que pode ser utilizado em determinadas aplicações, como as embalagens que entram em contacto com os alimentos, que exigem uma esterilização ou descontaminação adicional antes de poderem ser utilizadas.

Em contrapartida, a reciclagem química decompõe os plásticos a nível molecular. Os óleos de pirólise produzidos são enviados para os crackers a vapor (steam cracker, em inglês) e substituem as matérias-primas à base de combustíveis fósseis. Os crackers a vapor produzem os monómeros que são subsequentemente polimerizados para criar novos plásticos que substituem as matérias-primas à base de combustíveis fósseis. De acordo com a Universidade de Ghent, o rendimento dos monómeros produzidos no crackers a vapor a partir de óleos de pirólise obtidos a partir de plásticos reciclados é semelhante ao das matérias-primas de origem fóssil.

Os recentes avanços na tecnologia de pirólise da reciclagem química permitem um processamento mais eficiente de resíduos mistos selecionados para produzir plásticos reciclados de qualidade alimentar, com os mesmos níveis de segurança e desempenho que os plásticos fabricados a partir de combustíveis fósseis. Combinando a pirólise com a gestão de contaminantes e a conversão molecular, a Honeywell UOP desenvolveu um processo de pirólise que converte os resíduos plásticos de baixa qualidade em matéria-prima que pode ser utilizada para produzir novos plásticos de qualidade virgem.

“A sociedade precisa de uma abordagem holística para conseguir uma maior reciclagem de plásticos, o que significa adotar toda uma nova série de tecnologias”, diz Kevin Quast.
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Colaboração crítica

Importa dizer que a reciclagem mecânica e a química não concorrem entre si, pelo contrário, devem complementar-se mutuamente. Quando os resíduos são adequados, a reciclagem mecânica oferece um método simples e de baixas emissões para devolver os plásticos à utilização. Quando o plástico está contaminado, é complexo ou de má qualidade, a reciclagem química evita que acabe em aterros ou incineração e pode reduzir radicalmente a necessidade de plásticos virgens.

Tal como as duas tecnologias podem trabalhar em conjunto para nos aproximarmos de uma economia circular dos plásticos, o mesmo acontece com a colaboração entre todos os intervenientes no sistema de gestão de resíduos: transformadores, recicladores, processadores, retalhistas e fabricantes de bens de consumo. Um dos principais obstáculos à reciclagem dos plásticos tem sido a desconexão e as incoerências entre estes players e as suas abordagens à reciclagem.

A este respeito, a Honeywell propôs-se a ligar os diferentes intervenientes, trabalhando com empresas de gestão de resíduos para licenciar a sua tecnologia de processo UpCycle, facilitando assim a adoção de mecanismos de reciclagem avançados. Por outro lado, é também vital que todas as partes envolvidas eduquem o público consumidor sobre a forma como estas mudanças devem afetar os hábitos de reciclagem e defendam as alterações necessárias nos esforços de recolha. As marcas têm um papel fundamental a desempenhar neste domínio, uma vez que podem ajudar comunicando aos consumidores as alterações nos materiais de embalagem e as novas práticas de reciclagem.

Embora esta colaboração já esteja a ganhar força entre as empresas, ainda há muito trabalho a fazer na reciclagem e na produção. No entanto, a atenção deve também centrar-se nos consumidores, encorajando-os a reciclar e, acima de tudo, facilitando o mais possível a sua ação através da redução de barreiras, como a necessidade de separar diferentes materiais. Para que isto funcione e, em última análise, para alcançar a economia circular desejada pela indústria, pelos governos e pelos cidadãos, será necessário utilizar toda a gama de ferramentas e tecnologias disponíveis.

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