O presidente da interpack e CEO da Theegarten-Pactec, Markus Rustler, sublinhou a importância de materiais de embalagem mais sustentáveis e recicláveis, mas também apontou desafios para a indústria. “A utilização de materiais reciclados é, por exemplo, um assunto intrigante. Se todos os fabricantes em todo o mundo se lançassem de corpo e alma neste esforço, teríamos disponíveis materiais reciclados suficientes? No Ocidente, poderá acabar por ser bem-sucedido, porque temos sistemas para reciclar materiais de embalagem que funcionam bem em maior ou menor grau. Mas, por muito louvável que seja este esforço, o que dizer de mercados realmente grandes, como a Ásia, a África ou a América do Sul? Estas regiões estão longe de ter uma economia circular funcional em que os materiais possam ser reciclados. Na minha opinião, serão necessárias décadas até lá chegarem. Mas, mesmo assim, temos de começar – quando mais cedo, melhor”, afirmou Rustler antes do início da interpack.
É, por isso, cada vez mais urgente produzir a menor quantidade possível de resíduos não recicláveis para conservar recursos valiosos. Através da proposta de regulamento relativo a embalagens e resíduos de embalagens (PPWR), a Comissão Europeia planeia impor requisitos vinculativos para embalagens e resíduos de embalagens de todos os materiais colocados no mercado na UE. Ao proceder a esta atualização legislativa, a Comissão Europeia pretende atingir três objetivos principais. O primeiro é evitar a criação de resíduos de embalagens, impondo restrições às embalagens desnecessárias e favorecendo soluções reutilizáveis e recarregáveis. O segundo é a criação de um círculo fechado de reciclagem para garantir que todas as embalagens no mercado europeu sejam reutilizáveis ou recicláveis de uma forma comercialmente viável até 2030. O terceiro é reduzir a procura de matérias-primas primárias através da criação de um mercado funcional para as matérias-primas secundárias, aumentando em simultâneo a quantidade de plásticos reciclados nos materiais de embalagem através da fixação de objetivos obrigatórios.
A proposta foi alvo de um debate intenso e controverso durante meses. Só na Comissão do Ambiente do Parlamento Europeu foram apresentadas cerca de três mil alterações. O processo legislativo iniciou-se no princípio de 2023. Não é certo que o processo subsequente, no qual o Conselho Europeu, o Parlamento Europeu e a Comissão Europeia têm de encontrar um compromisso final, esteja concluído antes das próximas eleições europeias, em junho de 2024.
A Comissão Europeia não é a única a trabalhar no avanço da economia circular. As associações e as empresas do setor da embalagem procuram os seus próprios caminhos e estão a desenvolver soluções futuristas. A associação europeia de produtores plásticos, Plastics Europe, publicou um plano de ação para a produção de plásticos sem recursos fósseis. É provavelmente impossível eliminar a totalidade da utilização destas matérias-primas, mas o 'Roteiro para a Transição dos Plásticos' revela que 65% dos recursos fósseis utilizados na produção de plásticos poderão ser substituídos por matérias-primas circulares provenientes da biomassa, de materiais reciclados e da captura de carbono até 2050. “O Roteiro para a Transição dos Plásticos, que desenvolvemos em conjunto com a Deloitte, mostra como podemos reduzir 28% as emissões de CO2 na cadeia de valor dos plásticos até 2030 e transformar a indústria numa economia circular ecológica até 2050. Com o apoio do governo alemão e da Comissão Europeia, os fabricantes europeus de plásticos poderão aumentar a quota de matérias-primas circulares na produção de plásticos para 25% até 2030 e para 65% até 2050”, disse Ingemar Bühler, diretor-geral da Plastics Europe Germany.
O expositor da interpack, Greiner Packaging, está também a trabalhar para reduzir a utilização de plásticos. O produtor de embalagens tem como objetivo reduzir ainda mais a utilização de plásticos com as suas soluções de embalagem K3 (combinação de cartão-plástico). O mais recente desenvolvimento é o K3 r100. O invólucro de cartão deste copo separa-se sozinho do copo de plástico não impresso durante o processo de recolha de resíduos, tornando possível a reciclagem de ambos os materiais. Tem também outras soluções que reduzem ao mínimo o uso de plástico, como os copos termoformados, rotulados na fase de moldagem através do processo de rotulagem no molde (IML) e que pesam cerca de 25% menos do que um equivalente moldado por injeção. Outro exemplo são os copos PET altamente termoestáveis com conteúdo reciclado, que podem suportar temperaturas até 120 °C, o que os torna particularmente atrativos para os produtos lácteos que são servidos quentes.
Fabricantes de plásticos, como a Joma, da Áustria, estão a desenvolver mais soluções recicláveis destinadas a promover uma economia circular sustentável, fechando os círculos de materiais e reduzindo a utilização dos mesmos. Na interpack, a Joma apresentou um moedor de especiarias com design “novo clássico” da sua gama re:cycle, feito de PET 100% reciclado. O rPET é hoje o único plástico com uma economia circular certificada aprovado para contacto direto com alimentos.
Também para outros materiais de embalagem, a tendência aponta para soluções circulares. As embalagens cartonadas para bebidas são um exemplo. O fabricante suíço SIG desenvolveu um material de embalagem de barreira total para soluções de embalagem asséptica em cartão que dispensa uma camada de alumínio. Recebeu um prémio de design para a circularidade da 4evergreen, uma associação de mais de 100 fabricantes, designers, proprietários de marcas, investigadores e recicladores. O novo material chama-se SIG Terra Alu-free + Full Barrier e pode ser também usado em produtos sensíveis ao oxigénio, como sumos, graças à proteção de barreira total.
A associação 4evergreen, que acredita que a reciclabilidade das embalagens começa com um bom design, publicou, no verão de 2023, a segunda edição de suas Diretrizes de Circularidade desde a Conceção, apresentando novas orientações para o design sustentável de embalagens de bebidas. Desde chávenas de café a pacotes de sumo e leite, os designers têm uma fonte de referência fiável e apoiada pela indústria para consultar quando tomam decisões sobre a conceção de embalagens à base de fibra.
De onde provêm as matérias-primas utilizadas nas embalagens? Quando e onde foram transformadas, e em que foram transformadas exatamente? Frascos de champô, revestimentos de cereais e outras soluções de embalagem têm frequentemente uma estrutura complexa composta por diferentes materiais. Para que as empresas saibam quais são estes materiais, durante o processo de criação de valor, precisam de transparência sobre o tipo, a origem e o processamento das matérias-primas utilizadas. Mas, atualmente, não existe um registo normalizado ou um fornecimento estruturado de informações sobre a reciclagem nos processos de produção de plásticos. Para facilitar este processo, a GS1 Alemanha uniu forças com as partes interessadas da indústria dos plásticos para desenvolver as diretrizes de Rastreabilidade Circular dos Plásticos para uma recolha normalizada e uma partilha estruturada de dados relevantes para a reciclagem. Parâmetros de dados comuns permitem que todos os parceiros envolvidos partilhem dados consistentes entre si e acompanhem o percurso de cada plástico através do sistema circular.
"Esta é uma base importante para a gestão baseada em dados dos fluxos de materiais. No R-Cycle, parceiro de desenvolvimento e utilizador das novas diretrizes da GS1 Alemanha, oferecemos uma infraestrutura de TI normalizada para a partilha de dados e transparência ao longo do ciclo de vida dos plásticos. Os dados são guardados automaticamente em conformidade com as diretrizes de rastreabilidade circular dos plásticos e podem ser partilhados com todas as partes ao longo da cadeia de valor”, salientou Benedikt Brenken, diretor do R-Cycle.
Para dar um exemplo atual, as embalagens que contêm polietileno acabam normalmente todas na mesma fração na instalação de triagem, independentemente de se tratar de alimentos, cosméticos, detergentes, monocamada, multicamada ou outra classe de embalagem. A empresa alemã Polysecure desenvolveu a Sort4Circle, uma nova tecnologia de triagem que separa estas partes de acordo com as especificações relevantes. No início de 2023, foi apresentada publicamente uma primeira demonstração do sistema. A solução surgiu na sequência de um projeto de investigação conjunto da Polysecure, da Universidade de Pforzheim, do Instituto Fraunhofer de Tecnologia de Fundição, Compósitos e Processamento (IGCV), do Instituto de Tecnologia de Karlsruhe e da HD Vision Systems. Durante o processo de triagem, que poderá ser concretizado desde já, os objetos são separados antes de serem, numa única etapa, detetados e classificados. Deste modo, a triagem é flexível, adaptável e comercialmente viável, mesmo quando estão envolvidas inúmeras frações diferentes. O processo de deteção é efetuado através de um novo detetor combinado, desenvolvido pela Polysecure em conjunto com a Carl Zeiss AG. Este detetor identifica simultaneamente o NIR, a imagem (IA), o rastreador e a cor de cada objeto e, opcionalmente, pode também detetar marcas de água digitais. Isto significa que pode funcionar com todas as tecnologias de deteção atuais, bem como com as que venham a ser desenvolvidas. É a primeira vez que se cria um processo de triagem inter-tecnologias, informa a empresa.
Uma série de projetos de investigação está a explorar possíveis aplicações para matérias-primas renováveis. É o caso da empresa alemã Brabender, que, com a Universidade de Tecnologia de Dresden, está a utilizar algas marinhas para produzir filme biodegradel que simplesmente se dissolvem após a utilização.
“Na interpack deste ano, mostrámos o processo de conversão de algas marinhas em embalagens acabadas. As algas podem ser utilizadas, por exemplo, para criar filme para embalar cápsulas de detergente de roupa ou para pastilhas para a máquina de lavar louça”, afirmou Ludwig Schmidtchen, chefe do projeto de polímeros de algas marinhas na Brabender.
Além de ser solúvel em água e adequado à moldagem por injeção, o material também pode ser moldado conforme desejado e é ideal para a produção de películas seláveis. O Carraphane obtido a partir de algas marinhas pela Brabender é um exemplo da economia circular em ação, ao ajudar a reduzir o consumo de matérias-primas não renováveis e ao minimizar o impacto ambiental. É produzido a partir de algas marinhas sem resíduos e com uma utilização mínima de recursos, antes da submissão ao processo de extrusão. O filme produzido contém todos os nutrientes presentes na planta inicial. Uma vez que os filmes são solúveis em água e consistem em biomassa natural de algas marinhas, biodegradam-se num curto período, com todos os componentes constituintes a regressar à natureza. O material de algas marinhas também tem uma pegada ambiental significativamente menor do que os plásticos convencionais e os bioplásticos feitos a partir de outras matérias-primas renováveis.
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