O ‘Estudo de mercado de máquinas de injeção’ é uma iniciativa única em Portugal, que permite aos participantes obter informação detalhada sobre as vendas destes equipamentos, de forma segmentada por área geográfica, tipo de máquina, tonelagem e mercado de destino. Os dados obtidos refletem as tendências de mercado e são uma importante ferramenta de gestão para os fornecedores de máquinas, quando se trata de definir estratégias comerciais para os meses vindouros.
Os resultados obtidos de forma confidencial, juntamente com as entrevistas aos participantes realizadas pela InterPlast durante o evento, permitem-nos traçar um cenário realista sobre a evolução deste mercado, que, por seu lado, espelha a forma como se comportam os segmentos cliente deste tipo de equipamentos, da indústria automóvel à embalagem ou ao setor médico.
A edição deste ano fica marcada pela entrada de um novo participante, a Go.Tec!, que desde o final de 2023 representa a Chen Hsong em Portugal.
O ‘Estudo de mercado de máquinas de injeção’ realizou-se a 7 de fevereiro, no Nerlei, Leiria.
Marcas de máquinas de injeção participantes no Estudo de Mercado de 2024:
O número total de máquinas de injeção vendidas em Portugal em 2024 sofreu um decréscimo em relação a 2023, ano em que se tinha registado uma queda mais abrupta. A maioria dos participantes no estudo de mercado, como Martin Cayre, diretor-geral da Arburg Portugal, considera que este novo abrandamento, ainda que ligeiro, se deveu ao congelamento de projetos na indústria automóvel, setor do qual muitas empresas nacionais dependem e que continua a gerar inquietude.
Tanto Rui Folhadela, sócio-gerente da Folhadela Rebelo, como Rui Fonseca, sócio-gerente da Tecnofrias, e Ricardo Reis, gestor operacional na Jucatec, referem a crescente concorrência asiática como principal causa desta conjuntura. “A facilidade com que os players internacionais do setor automóvel compram peças fora da Europa, a preços que não pagam nem o material nas nossas fábricas, torna tudo muito difícil” refere Rui Folhadela. Ao mesmo tempo, “a entrada massiva no mercado europeu de veículos totalmente produzidos na China agrava este panorama e coloca a indústria automóvel europeia numa situação muito complicada, que exige uma reinvenção urgente”, alerta Ricardo Reis, lembrando que, “no território nacional, muitas empresas já encerram portas por falta de encomendas e de novos projetos”. Jorge Júlio, diretor geral da Inautom, adiciona “o congelamento das verbas das linhas de apoio ao investimento e a conjuntura internacional”, como possíveis causas para a situação vivida pelas empresas portuguesas.
Hugo Brito, diretor geral da Equipack, lembra que este abrandamento surgiu “com algumas surpresas, principalmente na necessidade das OEM, que em alguns casos reviram em baixa a venda de automóveis e, por sua vez, a necessidade de peças”. Já noutros setores, como o packaging ou medical, “não se notou grande variação”.
De facto, como diz Tiago Coelho, gerente da Augusto Guimarães & Irmão, “após o período de correção que foi 2023, os setores reagiram de forma bem diferente. Houve projetos de grande escala e alto impacto em segmentos como o da distribuição de energia e da produção de filme, que foram finalizados ou decididos em 2024, tal como houve tantos outros, principalmente na área automóvel, que foram atrasados, com impacto significativo no mercado da injeção”.
Na área dos plásticos utilitários, Ricardo Reis recorda o encerramento da Tupperware, facto que veio demonstrar “a preferência dos clientes por soluções mais baratas, muitas delas importadas”.
Em suma e em geral, todos os participantes olham para 2025 com cautela. “Acho que este é um ano de transição, especialmente no mercado automóvel”, diz Martin Cayre. Rui Fonseca alerta, no entanto, que “a mudança de direção na política comercial dos EUA pode vir a agravar esta conjuntura, principalmente se se concretizar a ameaça de tarifas sobre as importações europeias, especialmente no setor automóvel, crucial para economias como a alemã. Além disso, a incerteza comercial pode levar a uma redução no crescimento económico”.
Perante a instabilidade na venda de máquinas, os fornecedores reforçam a aposta em áreas complementares. A Folhadela Rebelo refere que, em 2024, a empresa registou um crescimento na procura de equipamentos periféricos energeticamente eficientes, cada vez mais procurados pelo mercado como forma de otimizar processos e minimizar custos de produção.
A Equipack, por seu lado, realizou investimentos importantes para passar a oferecer aos seus clientes um novo serviço de formação técnica 'in doors'. Além disso, a empresa tem vindo a reforçar a promoção da manutenção preventiva, “essencial para a longevidade e eficiência das máquinas”, refere Hugo Brito.
Tiago Coelho salienta que, em sentido contrário ao da indústria automóvel, há setores como o da energia que estão a realizar investimentos importantes. “Em 2024, tivemos o privilégio de participar na implementação de processos de ponta inovadores, na área dos cabos de transmissão de energia”. O representante das máquinas Roboshot, da Fanuc, destacou também a participação da empresa em “projetos que contribuíram para a competitividade e futuro do nosso setor”, nomeadamente na “implementação de sistemas para aumentar significativamente e de forma automatizada a capacidade de incorporação de materiais reciclados”.
Rui Fonseca, representante da Wittmann Battenfeld, reforça que “a aposta na sustentabilidade, com um aumento da adoção de plásticos biodegradáveis e práticas de economia circular”, pode aumentar as oportunidades de mercado em setores como o da embalagem, ao mesmo tempo que ajuda a “reduzir o impacto ambiental dos plásticos e promove uma produção mais responsável”.
A necessidade de diversificação foi também o mote para a Inautom entrar no mercado da extrusão de plásticos, com uma nova representada a anunciar brevemente. A injeção continua, no entanto, a ser o ‘core business’ da empresa, cuja representada Tederic se prepara para construir uma fábrica em Portugal. “Aguardamos com expectativa esta construção que deixará, certamente, uma marca positiva no mercado nacional”, diz Jorge Júlio, diretor-geral da Inautom.
Digitalizar, automatizar e poupar energia são palavras de ordem em todo o tecido industrial, principalmente em setores como o da injeção de plásticos, onde a concorrência externa e as imposições regulamentares ambientais mais se fazem sentir. Em Portugal, “existe um forte interesse em soluções chave-na-mão e num maior grau de automatização para melhorar a produtividade, bem como em soluções para melhorar a eficiência energética”, assegura Martin Cayre.
Na área da digitalização, Telmo Pedro, diretor da Go.Tec!, acredita que o futuro está na total conectividade entre sistemas e na implementação da inteligência artificial na injeção de plásticos. O responsável refere um aumento na procura de “máquinas com sensorização IoT e de equipamentos 100% elétricos”. Esta tendência para a eletrificação é também registada pela Jucatec, no entanto, Ricardo Reis observa que “ainda é algo pontual, associado à necessidades de cumprir critérios de aceitação em projetos candidatos a fundos europeus”, diz o representante da Yizumi.
Neste campo, a AGI disponibiliza aos seus clientes aquela que diz ser “a máquina com menor consumo do mercado, que oferece dados em tempo real sobre o impacto na pegada de carbono da produção, permitindo que o processo seja ajustado e otimizado”, salienta Tiago Coelho. O representante da Fanuc destaca ainda a possibilidade que a marca oferece de “integração robótica cada vez mais próxima do processo, combinando múltiplos robôs (cartesianos e/ou articulados) e garantindo assim maior produtividade”, bem como “os sistemas de preparação e distribuição de materiais automatizados com recurso a tecnologias de ponta, que vão desde a integração de robotização com visão 3D para a abertura e desempilhamento de paletes, até à integração de dados e comunicação do sistema com software ERP ou MES, para maior segurança e rastreabilidade”.
Também Rui Fonseca aponta a digitalização e as soluções de software associadas como uma das tendências incontornáveis, bem como a “crescente automatização de processos e a adoção de ferramentas tecnológicas desenhadas para aumentar a eficiência tanto na produção como na logística”. O responsável pela Tecnofrias acredita que, nas máquinas de injeção, “desafios como a necessidade de baixar os custos com a energia e as crescentes regulamentações ambientais continuarão a exigir soluções inovadoras por parte dos fabricantes”.
Outro fator que obriga as marcas a inovar é a “crescente preocupação por parte dos transformadores em desenvolver soluções diferenciadoras, tecnologicamente mais evoluídas, que obriga, necessariamente, ao desenvolvimento de novos processos de fabrico e de novos equipamentos”, refere Hugo Brito.
A aposta no desenvolvimento de produtos com mais valor acrescentado e o consequente investimento em tecnologias mais evoluídas são, aliás, apontadas por Jorge Júlio como determinantes para aumentar a competitividade das empresas portuguesas.
E, entre as principais marcas de máquinas de injeção, não faltam exemplos de inovações tecnológicas, como é o caso do sistema ColorForm - que permite a coloração de peças diretamente no molde de injeção -, e a injeção em conjunto com LSR (Multinject com LSR), ambas da representada da Folhadela Rebelo, KraussMaffei. “São soluções de topo, às quais há que estar atento”, frisa Rui Folhadela. Na área da reciclagem, o responsável destaca “os equipamentos com ‘Compouding’, algo recente na indústria portuguesa, mas já muito utilizado com sucesso noutros países”.
Rui Folhadela assinala ainda a crescente tendência para a instalação de equipamentos que realizam a análise completa do consumo energético, bem como de soluções de automatização das várias fases da produção, que permitem “reduzir a intervenção humana e garantem uma produção com zero defeitos”.
Tradicionalmente, todos os fabricantes de máquinas de injeção preparam inovações para apresentar na K, que irá decorrer de 8 a 15 de outubro, em Düsseldorf. Este ano não será exceção e muitos dos participantes no estudo de mercado remeteram para mais tarde a divulgação das novidades - a maioria relacionadas com a eficiência energética - que estarão em exposição na maior feira mundial para os setores do plástico e da borracha.
Ricardo Reis adianta que a Yizumi irá apresentar uma nova máquina que “promete trazer alguns avanços tecnológicos ao mercado, desde uma maior automação de processos, a uma maior eficiência energética e a processos controlados com rigor cirúrgico, que permitem que o produto final seja menos dispendioso, com menos peças não conformes, aumentando assim a eficiência da produção”.
Entre as restantes marcas, a Arburg destaca o lançamento na K uma nova série de máquinas com um nível de eficiência significativamente superior, a Chen Hsong prepara-se para apresentar um modelo novo de máquina hidráulica de dois pratos e a Inautom vai expor a sua nova série de robôs cartesianos NEO, integralmente fabricados em Portugal.
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