Entrevista com Hannes Zach, responsável pelas Vendas de Soluções Digitais da Engel
Num setor cada vez mais pressionado pela necessidade de produzir mais com menos - menos pessoas, menos energia, menos tempo e menos margem de erro -, a digitalização está a tornar-se não apenas uma vantagem competitiva, mas uma condição para a sobrevivência. Na linha da frente desta transformação, a Engel, um dos principais fabricantes mundiais de máquinas de injeção, tem apostado fortemente no desenvolvimento de ferramentas digitais para tornar o processo produtivo mais eficiente, sustentável e atrativo para as novas gerações de profissionais.
Nesta entrevista, realizada durante o evento ‘iQ user community’, Hannes Zach, responsável pelas Vendas de Soluções Digitais da representada da Equipack, destaca os resultados obtidos pelos clientes que já usam estas soluções e antecipa os próximos passos rumo à “máquina auto-otimizável”, assistida por inteligência artificial.
Antes de mais, deixe-me dizer-lhe que temos diferentes soluções para diferentes necessidades. Por um lado, temos o nosso portefólio iQ, que inclui uma série de sistemas inteligentes de assistência à qualidade, desenvolvidos para instalação na própria máquina de injeção, que melhoram o processo de injeção e o tornam mais estável (um pouco como acontece com os sistemas de assistência que existem atualmente nos automóveis).
Mas também temos sistemas de software que podem ser instalados na fábrica do cliente e que tornam todo o processo produtivo mais transparente. Concretamente, o nosso MES ‘authentig’ consegue recolher automaticamente dados de qualquer tipo de máquina de injeção - de qualquer marca, não apenas da Engel -, analisá-los e fornecer indicadores importantes, como KPIs, Eficácia Global do Equipamento [OEE ou Overall Equipment Effectiveness, na expressão em inglês], taxa de rejeitados, entre vários outros.
E temos ainda soluções na nuvem, em que o cliente não precisa de investir na sua própria infraestrutura de TI, basta estar ligado ao portal do cliente da Engel e, assim, beneficiar de diversas ferramentas digitais, onde se incluem sistemas de monitorização ou avaliação de dados de processo.
Todos estes produtos ajudam as empresas a diminuir gastos desnecessários.
Sim, durante os eventos ‘iQ user community’ e ‘digital shopfloor community’ foram apresentados vários casos de clientes que estão a usar as nossas ferramentas digitais com excelentes resultados. A SLG Kunsstoff, por exemplo, conseguiu reduzir significativamente o consumo de material e a taxa de desperdício graças aos sistemas de assistência iQ.
Num outro exemplo, a empresa polaca SolidPlast, especializada na injeção de peças técnicas ‘difíceis’ para a indústria automóvel, utiliza vários iQ, incluindo o ‘iQ process observer’, para produzir peças de elevada qualidade. Graças a estas soluções, a empresa conseguiu reduzir as suas inspeções manuais em 11 horas por mês para apenas uma peça.
Assistimos também à apresentação de empresas que estão a usar o MES ‘authentig’ com resultados extraordinários. É o caso da Giebeler, que em poucos meses conseguiu reduzir o tempo de inatividade em cerca de 8%, e da Kromberg & Schubert que conseguiu melhorar a OEE em 9%.
Destaco ainda a apresentação da Jopa, uma empresa alemã fabricante de caixas e utilidades domésticas, que usa o ‘e-connect’ para monitorizar a produção através do portal do cliente da Engel e melhorar a sua OEE.
Já temos clientes em Portugal a utilizar as nossas ferramentas digitais, nomeadamente o ‘authentig’ e o ‘iQ weight control’, mas ainda não nos chegaram dados concretos sobre o sucesso das aplicações. Esperamos, em breve, poder partilhar essas histórias.
Nas PME, a digitalização pode ser, de facto, um desafio importante. Mas, como eu disse, a Engel tem soluções para todas as fases de maturidade digital das empresas, desde aplicações na nuvem até ferramentas de análise automática de dados impulsionada por IA.
As soluções baseadas na nuvem representam um investimento realmente baixo e permitem ao cliente começar a monitorizar a produção muito rapidamente, já que não exigem qualquer instalação. A empresa nem precisa de ter um departamento de TI próprio, basta ter ou contratar um técnico que faça a ligação das máquinas aos nossos dispositivos IoT. Os dados ficam imediatamente disponíveis no portal Engel ‘e-connect’. O pacote mais pequeno, ‘e-connect basic’, custa apenas 450 euros por máquina, por ano, ou seja, 1,2 euros por dia e por máquina, sem custos adicionais com pessoal ou infraestrutura de TI.
A SolidPlast, de que falámos há pouco, utiliza este pacote para controlar a produção em tempo real. Consegue saber, por exemplo, que máquinas estão a funcionar, quais os tempos de ciclo, taxas de rejeitados, KPIs, entre outros. E tudo isto em qualquer lugar, através de um simples smartphone.
À medida que estas empresas vão evoluindo na sua maturidade digital, podem adicionar passos, como parâmetros de processo ou mesmo o ‘iQ process observer’, que oferece uma análise automática de dados orientada por IA.
Ou seja, temos produtos para todas as fases e todo o tipo de empresas. Além disso, na Engel, não há becos sem saída. Se um cliente nos apresentar um problema de digitalização, temos capacidade para desenvolver a solução de que precisa.
Por apenas apenas 450 euros por máquina, por ano, qualquer empresa pode controlar parâmetros de produção como tempos de ciclo, taxas de rejeitados e KPIs, através do portal Engel ‘e-connect’.
Especialmente para materiais reciclados, um dos sistemas inteligentes de assistência à qualidade que mencionei antes, o ‘iQ weight control’, consegue compensar a alteração da viscosidade do material, podendo também compensar influências do ambiente, para garantir a qualidade constante do produto final. Desta forma, o fabricante pode utilizar material reciclado com a segurança de que terá sempre um processo estável.
Este é um exemplo, mas também temos ferramentas de medição de energia na máquina e opções de limitação de consumo, chamadas ‘eco balance’, que podem ser usadas para definir a potência máxima da máquina. Quando temos várias máquinas para controlar, podemos combiná-las com o ‘authentig’ e definir um limite máximo de consumo energético de toda a produção, de forma a evitar picos de consumo e multas por parte do fornecedor de energia.
De facto, todos os sistemas de assistência Engel foram desenhados, também, para facilitar a vida ao operador. Com a criação do ‘iQ process observer’ demos um passo mais além. Graças a um algoritmo que analisa continuamente a condição do processo de injeção, quando deteta circunstâncias específicas, este programa emite um alerta diretamente no painel de controlo para a necessidade de ajustar a máquina de determinada maneira. Isto é particularmente útil para operadores mais inexperientes ou com menos conhecimentos do processo de injeção.
Neste momento, com esta solução, qualquer operador consegue corrigir o comportamento da máquina. No futuro, a própria máquina terá capacidade para o fazer, automaticamente. Se compararmos com o que está a acontecer no mercado automóvel, os carros hoje já vêm equipados com sistemas que conseguem identificar erros e avisar o condutor para os corrigir. No futuro, eles próprios terão a capacidade de manter o curso correto, sem qualquer intervenção humana, tudo graças à inteligência artificial. Isto, transposto para a máquina de injeção, significa que apenas teremos de definir os parâmetros de processo ideais e, a partir daí, ela controla tudo, corrigindo automaticamente quaisquer desvios ou erros. O operador só terá de intervir se acontecer algo muito inesperado, que a máquina não consiga resolver.
Claro que sim. Muitos dos nossos clientes que já utilizam estas soluções valorizam o facto de elas serem particularmente atrativas para os jovens trabalhadores. Estas pessoas cresceram rodeadas por tecnologia, por isso, acham muito mais interessante poder controlar o processo através de ferramentas digitais, com aquisição automática de dados, do que se alguém lhes disser “agora pega num lápis, vai para ao pé da máquina e tira notas”. Os jovens querem usar a tecnologia no trabalho como fazem na vida privada, e acho que é porque sabem como a digitalização pode tornar a vida mais fácil e confortável. E querem também usar ferramentas de inteligência artificial. O Assistente Virtual Engel, denominado EVA, atualmente em fase final de desenvolvimento, vai dar resposta a esse ensejo.
Sim. Uma das principais novidades que iremos apresentar na K é, precisamente, a EVA, a nossa assistente técnica baseada em IA, disponível 24 horas, que nunca fica doente e tem todas as respostas [risos].
Quando um jovem operador vê um alarme no monitor da máquina, onde é que acha que ele vai procurar a solução para o problema? No manual em papel ou no YouTube? A resposta é óbvia. E agora, ele só terá de perguntar: “EVA, estou com um problema nesta máquina. Como posso resolvê-lo?”. Automaticamente, irá receber uma resposta, no seu idioma, baseada em toda a informação utilizada para alimentar o programa. Rápido, simples e eficaz. Esta é a forma como os jovens querem trabalhar hoje em dia.
Além da EVA, estamos a trabalhar numa outra ferramenta baseada em IA, a que chamamos ‘controlo de qualidade’ e que é o nosso primeiro passo rumo à máquina auto-otimizável, que mantém registo contínuo de todos os processos e os corrige automaticamente, sem intervenção humana, de forma a produzir sempre peças de boa qualidade.
Além disso, queremos melhorar o ‘iQ process observer’, a nossa ferramenta analítica alimentada por IA, para que possa fornecer mais ‘insights’ sobre o processo de injeção (que aspetos podem ser melhorados, que alterações são necessárias), sem que o técnico tenha de fazer essa verificação.
O incremento da digitalização no setor está alinhado com duas grandes tendências: por um lado, a falta de mão de obra global (já vimos que as ferramentas digitais podem ajudar a atrair jovens e a automatizar processos) e, por outro, a crescente internacionalização das empresas. A indústria de plásticos mundial é composta por grandes empresas com operações em diversas partes do globo, que querem poder monitorizar tudo o que se passa em cada unidade de forma centralizada e, para tal, precisam da digitalização. Na Engel, vamos continuar a trabalhar para dar resposta a todos estes desafios.
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