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Do Material ao Produto: o papel estratégico do design focado no material para o desenvolvimento de soluções sustentáveis

Mariana Marques, Técnica Principal de Extrusão, Composição e Materiais Avançados no Pólo de Inovação em Engenharia de Polímeros (PIEP)

13/10/2025
Num cenário em que a sustentabilidade se impõe como requisito essencial, a indústria é chamada a ir além da simples substituição de materiais. É necessário repensar todo o processo de como eles são idealizados, escolhidos, desenvolvidos e integrados.

É neste contexto que metodologias como o Material-Driven Design (MDD) ganham relevância, desafiando a perspetiva ainda prevalente em alguns setores industriais que limita o design à fase final do produto ou à sua estética e aparência visual. Na realidade, o design, enquanto disciplina estratégica e multidimensional, atua desde a origem dos materiais, promovendo inovação alinhada com critérios funcionais, estéticos, culturais e ambientais.

Figura 1 - Processo integrante e de desenvolvimento de MDD. Retirado de: Materials Experience Lab, 2025
Figura 1 - Processo integrante e de desenvolvimento de MDD. Retirado de: Materials Experience Lab, 2025.

Ao invés de tratar o material como uma variável técnica a encaixar num produto já definido, abordagens como o Material-Driven Design (MDD) propõem uma inversão de lógica: começar pelo material, compreendendo a sua origem, propriedades sensoriais, impacto ambiental e expressão formal, permitindo que ele guie a forma, a função e a linguagem do produto. Esta perspetiva torna-se particularmente relevante no desenvolvimento de materiais sustentáveis, como biocompósitos ou compostos com fibras naturais e resíduos, onde o design atua como elo entre inovação técnica e responsabilidade ecológica.

Integrar o design do material desde os estágios iniciais permite um olhar mais holístico, em que critérios como compostabilidade, circularidade ou reprocessamento não são apenas exigências técnicas, mas qualidades estruturantes da própria identidade do material. Mais ainda, promove-se a criação de soluções que comunicam de forma autêntica, visual e sensorial, como a sua origem base-bio ou reciclada, fortalecendo o vínculo entre material, função e propósito no contexto de uma economia cada vez mais orientada para o ecodesign.

Este reposicionamento do design do material como uma ferramenta estratégica está em sintonia com o quadro legislativo europeu em transformação, que impulsiona uma transição sistémica rumo à sustentabilidade. Iniciativas como o Pacto Ecológico Europeu (European Green Deal), o Plano de Ação para a Economia Circular e o proposto Regulamento de Ecodesign para Produtos Sustentáveis (ESPR) estabelecem critérios obrigatórios que abrangem durabilidade, reutilização, reciclabilidade, biodegradabilidade, eficiência energética e rastreabilidade de materiais e produtos ao longo de todo o seu ciclo de vida.

A integração do design do material desde as fases iniciais de desenvolvimento é assim capaz de criar valor técnico, expressivo e ambiental. A experimentação com composições, processos e propriedades passa a estar alinhada com a identidade e o propósito do produto final. Assim, o design desempenha um papel fundamental na otimização de formulações, definição de parâmetros de processamento e conceção de protótipos coerentes com os contextos de aplicação.

Complementarmente, o processo de Material-Driven Design pode ser enriquecido pela integração de metodologias como o Design Thinking, que muitas vezes já é aplicado de forma intuitiva por diversas equipas e agentes industriais, mesmo sem o nomearem explicitamente. Enquanto o MDD orienta o desenvolvimento a partir do material, explorando as suas propriedades e potencialidades técnicas, o Design Thinking traz uma perspetiva colaborativa e centrada no utilizador, promovendo a criatividade e a resposta às necessidades reais. Esta complementaridade cria um ambiente propício à inovação, onde a tecnologia, a sustentabilidade e o valor percecionado se entrelaçam, refletindo a complexidade e exigências do design contemporâneo.

Figura 2 - Representação do Duplo Diamante (double diamond), enquadramento de design criado pelo Design Council...
Figura 2 - Representação do Duplo Diamante (double diamond), enquadramento de design criado pelo Design Council, integrado e contextualizado nos processos de Design Thinking. Retirado de: Espinha, 2024.

A aplicabilidade destes métodos revelou-se assim imprescindível em projetos como o Work Package (WP) 4 – Biocompósitos, que integra a iniciativa From Fossil to Forest (FF2F) apoiada pela Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), onde o desenvolvimento dos biocompósitos focou-se em tirar o máximo proveito da incorporação de fibras celulósicas na formulação dos biocompostos, com vista a potencializar a sua aplicação em embalagens rígidas, flexíveis e termoformadas, bem como em filamentos para impressão 3D para a tecnologia de FDM. Esta abordagem, centrada no Material-Driven Design, coloca o material no coração do processo criativo, desafiando paradigmas tradicionais onde os materiais são apenas escolhidos depois da forma do produto estar definida. No WP4 – Biocompósitos, significou explorar e desenvolver os biocompostos desde a base, permitindo que as suas propriedades técnicas, sensoriais e funcionais influenciassem diretamente as decisões de design. Ao envolver o material como coautor do desenvolvimento, foi possível alinhar forma, função e sustentabilidade de forma integrada, potenciando soluções inovadoras que respondem às exigências técnicas e ambientais atuais.

O processo de design apoiado nesta lógica permite uma interação profunda entre investigação, experimentação e desenvolvimento, assegurando que as matérias-primas, os processos produtivos e as características finais dos protótipos estejam em sintonia com os objetivos de circularidade, eficiência e minimização de impacto ambiental. Assim, o projeto não só promove alternativas concretas para a substituição dos plásticos fósseis, mas também demonstra como a integração do material no centro do desenvolvimento é fundamental para a criação de produtos sustentáveis e alinhados com as diretrizes de ecodesign europeias.

Figura 3 - Desenvolvimentos realizados no WP4 – Biocomposites, do projeto From Fossil to Forest - FF2F
Figura 3 - Desenvolvimentos realizados no WP4 – Biocomposites, do projeto From Fossil to Forest - FF2F.

Referências

Espinha, R. G. (2024, abril 15). Design Thinking: Aprenda como o pensamento inovador eleva o potencial competitivo. Artia. https://artia.com/blog/design-thinking/

Ellen Macarthur Foundation. (2022, June 7). An introduction to circular design. Ellen Macarthur Foundation News, web. https://www.ellenmacarthurfoundation.org/news/an-introduction-to-circular-design

Ceschin, F., & Gaziulusoy, I. (2016). Evolution of design for sustainability: From product design to design for system innovations and transitions. Design Studies, 47, 118–163. https://doi.org/10.1016/j.destud.2016.09.002

Karana, E., Barati, B., Politécnico, V. R., Milano, D., & Zeeuw Van Der Laan, A. (2015). Material Driven Design (MDD): A Method to Design for Material Experiences. International Journal of Design, 443(2), 35–54. www.ijdesign.org

Materials Experience Lab. (n.d.). Material driven design method (MDD). Retrieved August 1, 2025, from https://materialsexperiencelab.com/index.php/material-driven-design-method-mdd/

Yavuz, C., & Kaya, N. A. (2023). A Research on Material and Manufacturing Methods Training in Industrial Design. Journal of Science PART B: ART, HUMANITIES, DESIGN AND PLANNING, 11(3), 619–634. https://www.researchgate.net/publication/374478006_A_Research_on_Material_and_Manufacturing_Methods_Training_in_Industrial_Design

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